Introdução
O
futebol pertence a um conjunto de modalidades designadas por JDC (jogos desportivos colectivos) e
consiste numa oposição entre elementos das duas equipas, numa relação de
cooperação entre elementos da mesma equipa e da junção das duas
anteriores num contexto aleatório. A permanente relação de sinal
contrário entre as duas equipas, impõe uma mudança de atitude de acordo
com o objectivo do jogo e com as finalidades de cada fase ou situação
(ataque/defesa). Compete assim aos jogadores, individualmente, em
pequenos grupos, ou colectivamente ter comportamentos, dentro das
regras, que induzam situações favoráveis ao alcance do objectivo de cada
fase. Além dos princípios comuns aos JDC o futebol apresenta
especificidades muito características. Este jogo desportivo exige então
que os praticantes possuam capacidade de decisão ajustada à situação de
jogo tornando-se necessário utilizar uma gama de recursos motores
específicos genericamente designados por técnica. Os factores de
execução técnica são sempre determinados por um contexto táctico, sendo
estas duas (técnica e táctica) indissociáveis, estando as habilidades
técnicas sempre em relação às leituras e escolhas feitas pelos jogadores
Condicionantes estruturais e funcionais
Dimensão do terreno de jogo e número de jogadores
Quanto
maior for o espaço de jogo, mais elevada terá de ser a capacidade para o
cobrir, para além disso o elevado número de jogadores torna mais
complexa a leitura de jogo. O desenvolvimento progressivo da extensão do
campo perceptivo é efectivamente um dos aspectos mais importantes na
formação de um jogador de futebol, sendo essencial que este mantenha uma
atitude táctica permanente e jogue de “cabeça levantada”. Num espaço
menor e com menor número de jogadores, ou seja, num contexto menos
complexo, o principiante tem mais facilidade em aceder à progressiva
compreensão dos princípios de jogo, das regras de gestão do jogo e das
suas principais linhas de força.
Duração do jogo
O
jogador deve estar preparado fisicamente e mentalmente para responder
às inúmeras situações de forma rápida, repetida e coordenada. Sendo que
durante um jogo de futebol o jogador tem a posse de bola entre 30 seg. e
3 min., durante o restante tempo os jogadores seleccionam informações,
analisam-nos e tomam decisões (Bauer & Ueberle, 1988). Isto implica
que a relação entre a técnica e a táctica seja clarificada e que se
atribua a devida importância ao jogo sem bola.
Controlo da bola
O
futebol é um jogo de invasão do território adversário e de circulação
de bola, em que existe luta directa pela posse do móbil do jogo (bola).
Desta forma, é necessário, para a aprendizagem do jogo, a construção da
maestria da bola, em função das exigências tácticas que se colocam. A
dificuldade será o facto da bola ser quase exclusivamente jogada com os
membros inferiores, estando estes implicados simultaneamente no
equilíbrio e nos deslocamentos. Mais, o jogo desenvolve-se num plano
inferior, o que pode dificultar a disponibilização da visão para
efectuar a “leitura do jogo”. A questão será determinar, aquando de uma
falha em determinada resposta motora, se isso decorreu de uma leitura
deficiente ou se deriva de uma incapacidade técnica ou física.
Frequência das concretizações
A
relação entre as acções de ataque e êxitos quantificáveis é de apenas
50 para 1, ao contrário de outras modalidades onde a frequência é bem
mais elevada. Este factor permite que por vezes equipas de nível
inferior consigam bons resultados frentes a equipas de elevado nível.
Isto não quer dizer que se deva dar pouca atenção à finalização no
ensino/treino do futebol. Pelo contrário, deve ser criado um elevado e
variado número de ocasiões de finalização, ou arrisca-se a que o
praticante perca de vista o objectivo central do jogo e entre num jogo
de transição, provocando um desequilíbrio entre jogo indirecto e jogo
directo, em detrimento deste.
Colocação dos alvos
No
futebol, a colocação dos alvos (balizas) na vertical faz “variar” a sua
largura aparente, em função da posição (ângulo) em que estão a ser
visualizados pelo jogador (Gréhaigne, 1992). Esta indicação permite
consciencializar as noções de conquista/defesa do eixo do terreno, de
jogo directo e indirecto, e de abertura/fecho de ângulos de remate.
Terreno de jogo
Para
além das referências das linhas marcadas, temos as zonas que não estão
assinaladas fisicamente no terreno de jogo: corredor central; dois
corredores periféricos ou laterais (longitudinalmente). E sectores:
defensivo, médio e ofensivo (transversalmente).
Princípios de jogo
Nos
princípios de jogo o mais importante será identificar bem as duas fases
existentes, a fase de ataque e defesa. No futebol a relação de
cooperação/oposição manifestam-se segundo as componentes fundamentais da
táctica, em que são abordadas: as Fases; os Princípios; os Factores e
as Formas.
Quer
o ataque quer a defesa tem finalidades diferentes. O ataque com a
finalidade de obter golo, poderá faze-lo de uma forma mais directa ou
indirecta., por sua vez a defesa terá o objectivo oposto, podendo também
realiza-lo de uma forma mais agressiva ou passiva.
Para
a obtenção destas finalidades os jogadores deveram procurar seguir
princípios gerais e específicos. Os gerais deveram procurar ter sempre
superioridade numérica nas zonas de disputa de bola, nos específicos em
situações de ataque deveram ter em atenção a penetração, cobertura
ofensiva, mobilidade e espaço. Em situações defensivas a contenção,
cobertura defensiva, equilíbrio e concentração.
Para
que esses princípios possam ser realizados os praticantes devem
recorrer a diversos meios, a esses meios dá-se o nome de Factores. Os
factores de ataque e os factores de defesa dividem-se em acções
individuais, acções colectivas elementares e acções colectivas
complexas.
Para
determinar se os praticantes estão a conseguir pôr em prática estas
vertentes foram configurados diferentes modelos: modelos do tipo 1; 2;
3; 4 e 5, onde o modelo tipo 1 o jogo caracteriza-se por ser estático,
por sua vez o modelo tipo 5 o jogo caracteriza-se por um jogo dinâmico.
Condicionantes pedagógicas
Do
ponto de vista educativo o futebol possibilita o desenvolvimento de
distintas habilidades e capacidades, mas tendo também como objectivo
ensinar esse mesmo jogo enquanto realidade cultural. O ensino do futebol
deve passar pelo recurso a formas motivantes, situações em que o
praticante se depare com os ingredientes fundamentais do jogo, ou seja, a
bola, a oposição, a cooperação, a escolha e a finalização.
As tarefas dos jogadores
No
ensino do Futebol é importante implementar regras de acção específicas
para que deste modo se assegure o cumprimento das finalidades e dos
objectivos do jogo, nas suas diferentes fases (ataque e defesa). Para
que as regras sejam assimiladas, deverão ser experimentadas e
exercitadas diariamente.
Construção das situações de ensino/aprendizagem
Na
construção das situações de ensino/aprendizagem deve-se ter em conta
criar situações que se ajustem ao nível de desenvolvimento do praticante
e às exigências do jogo. Dentro dessas situações à que ter em conta um
conjunto de variáveis de evolução, cuja utilização permite induzir
transformações na configuração do jogo, bem como nos comportamentos e
atitudes dos jogadores. Algumas dessas variáveis são: bola; balizas;
espaço de jogo; nº de jogadores; regras e outras.
Em síntese...
O
ensino do Futebol é o ensino do jogo, como tal, a componente táctica é
nuclear. Os restantes factores (técnicos, físicos ou psíquicos) devem
servir de sustento a níveis tácticos cada vez mais elevados. Deve-se
assim cultivar no praticante de Futebol uma atitude táctica permanente.
Ter em atenção o desenvolvimento da extensão do campo perceptivo, o
praticante deve saber jogar nos espaços mais próximos e afastados.
A
nível do processo ofensivo, para o caso dos principiantes, deve-se
proporcionar a criação de várias ocasiões de finalização. A nível do
processo defensivo criar exercícios que façam apelo a uma defesa do tipo
individual nominal, para depois introduzir uma defesa à zona. Neste
tipo de defesa já surgem as situações de cobertura, dobra e compensação.
Numa situação de principiantes a situação de jogo 3x3 revela-se como estrutura mínima que garante a essência do jogo.
As
posições aqui sustentadas conduzem à ideia de que, no ensino do
Futebol, deve propor-se ao participante um jogo acessível, isto é, com
regras ajustadas, com número de jogadores e espaço adequados, de modo a
permitir a continuidade das acções, o domínio perceptivo do espaço, uma
frequente participação dos jogadores e variadas possibilidades de
finalização.
Bibliografia: “O Ensino dos Jogos Desportivos Colectivos, Amândio Graça et al.” FCDEF.UP